quinta-feira, 12 de agosto de 2010

LÚCIO FÈTEIRA
como a história poderia ter sido diferente


No final dos anos 20 do século passado, Lúcio Fèteira que era com o seu irmão gémeo o décimo filho legítimo do fundador do império metalúrgico da Vieira de Leiria, partiu para a Argélia levado pelo espírito de aventura.
Partiu por iniciativa própria, sem dizer nada a ninguém, nem ter cortado a ligação ao PCP de que era militante. Esteve três anos naquela colónia francesa , onde fez parte da Legião Estrangeira.
Com a prisão e o desterro de Bento Gonçalves para o Tarrafal, o partido fê-lo regressar, admitindo-se a possibilidade de assumir as funções de secretário-geral. Quando a família soube disto iam caindo o Carmo e Trindade, pois o Lúcio além de ser o único com instrução passou a ser a ovelha negra, já que todos os irmãos eram de extrema-direita, a começar pelo Albano que estava à frente das empresas da família e foi fundador da Legião Portuguesa. Lá conseguiram dissuadir o Lúcio entregando-lhe o cargo de presidente da Junta de Freguesia, onde entre outras coisas conseguiu trazer a energia eléctrica para a Vieira. Da ligação ao PCP ficou-lhe até ao fim da vida o cargo de cônsul do Paraguai que lhe haveria de ser precioso no futuro.
Depois, com um certo ar de conveniência casou com a filha do outro grande industrial, o Dâmaso, que o fez estagiar na fábrica de vidros. Rapidamente arrancou para nova aventura que foi a de abrir a mais moderna fábrica de vidro plano, na Guia, concelho de Pombal, para onde levou os melhores operários da Marinha Grande e da Fontela. Mas ainda o negócio não tinha aquecido, aquando do primeiro aniversário da laboração, promoveu uma festa de estadão, que mais não foi que uma manobra para fechar a fábrica, abrindo outra muito maior, beneficiando dos capitais do Cupertino de Miranda, no único espaço com condições para tal, em Santa Iria da Azóia. Nascia assim a COVINA e desenhava-se no horizonte uma das maiores fortunas do mundo.
Até que, anos mais tarde, o ministro da Indústria, Daniel Barbosa, lhe travou novos ânimos expansionistas. O Lúcio não se fez de modas e ofereceu participação no capital da empresa ao ministro, o que ele recusou por tal ser proibido aos governantes, coisa que até poderia ser contornada atribuindo-se essa quota à esposa do ministro. Só que a mulher recusou e a expansão dos negócios continuou embargada.
Isto não travou a vontade do Lúcio Fèteira. Com um sócio, o Cunha, contratou um homem a quem entregou uma pistola e deu como missão assassinar o ministro. Só que o pistoleiro perdeu a coragem e acabou por se entregar ao ministro. O Cunha foi de imediato preso pela PIDE, mas o Lúcio ainda conseguiu arranjar um mecânico-piloto que com ele arrancou do cais do Beato, no hidroavião de que o Lúcio era proprietário e lá voaram até ao Paraguai, e daí partiu para o Brasil onde construiu mais um império.
O Cunha passou uns anos na prisão e o Lúcio, com o poder que tinha lá conseguiu um indulto muitos anos depois.
O Lúcio Féteira morreu à beira dos cem anos de idade, com uma fortuna colossal e uma situação familiar atípica. Ainda era casado mas, há mais de trinta anos que vivia com a ex-esposa de um amigo e sem filhos legítimos, ainda que filhos ilegítimos da família Fèteira serão centenas na Vieira de Leiria.
Há dez anos que se perfilam os candidatos à herança, coisa que até parecia fácil face à existência de testamento. Mas quando as coisas se passam ao nível de quem levou uma vida como o Lúcio, nada pode ser dado como certo. Não é só o arrastar do processo prelos tribunais, a coisa chegou ao assassinato da que foi a companheira que viveu em união de facto com o Lúcio até a morte os separar.
Onde é que isto vai parar?
Eu, cá para mim, resolvia a questão de uma forma simples devolvendo toda a herança ao povo da Vieira. Afinal foi do seu suor e sofrimento que saiu aquela enorme fortuna.

5 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais!
LP.

Unknown disse...

Camarada e amigo de longa data:
confesso que só ouvi o nome deste snr, agora pelos "média"; felicito-te pela narrativa minuciosa e, creio precisa da vida do visado; de facto,há vidas que são desconhecidas do grande público, mas que fazem parte da historia deste país. Concordo contigo, quando dizes que os verdadeiros herdeiros dessa fortuna, são os laboriosos trabalhadores de Vieira e suas famílias.
Abraço

Anónimo disse...

Boa, Boa.

Anónimo disse...

Há cerca de 20 anos, quando trabalhei na Figueira da Foz,o Joaquim Feteira , meu colega e dono da Policlinica Diagnosticum,contava muitas "estorias" da familia, mas nunca tinha ouvido falar do passado politico do "patrono".
Com o mediastismo que este caso está a ter, não me admira que brevemente apareça para aí alguém a publicar um livro.
Parabéns pelq qualidade do "post"
Um abraço do mano

JORGE CRUZ

MMC disse...

Isso mesmo!