quarta-feira, 13 de junho de 2018

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017


TSU- uma polémica longe do fim

 

Em 1986, com a adesão à CEE, uma das medidas consideradas foi a da criação da Taxa Social Única, que implicaria a extinção do Fundo de Desemprego e a integração da Caixa de Seguros de Doenças Profissionais na segurança social. Tendo sido já dissolvidas todas as caixas de previdência públicas, estavam criadas todas as condições para se estabelecer uma solução razoável.

Na comunidade, então com 12 membros, havia exemplos para tudo. Desde a França onde a taxa ultrapassava os 50% dos salários declarados, aos países nórdicos e Alemanha onde a taxa era de 48% (34% a cargo das empresas e 14% pelos trabalhadores). De todos os exemplos, um único caso semelhante ao nosso, a Bélgica onde a taxa era igual para salários altos e baixos e estava então fixada em 37,94% (24,87% pelas empresas e 13,07% pelos trabalhadores).

Até pela proximidade de dimensão, foi este país que mais influenciou e definição da nossa TSU que ficou então em 35% (24% para as empresas e 11% para os trabalhadores). Como se vê um valor ainda assim abaixo que era prática na Europa.

O pior veio depois. Em 1994, no último governo de Cavaco Silva, a parte patronal foi reduzida em 0,75%. Tendo em conta os níveis salariais de então a coisa ficava-se por um valor absoluto irrisório, cerca de 1euro atual por mês e por trabalhador, fraca gorjeta!

Porém o que estava em causa era coisa mais profunda. Como a tradição era de as contribuições para a previdência irem registando sempre aumentos em função das necessidades de financiamento do sistema, em especial das reformas, quis-se dar um sinal que esta lógica tinha acabado e a economia não mais iria contribuir para a solução das questões sociais. Mais tarde, em 1999 o governo Guterres procedeu a uma correção parcial fixando a taxa nos atuais 34,75%, sendo a parte patronal de 23,75%,ainda assim 0,25% abaixo do valor inicial.

Temos portanto que esta última polémica sobre a TSU não é coisa nova, nem será desta vez que será enterrada. Só quando o poder deixar de se servir disto para fazer jeito aos seus amigos e passar a dar ouvidos a quem sempre encarou esta questão de forma séria, e não participou em “concertações” duvidosas, o problema ficará resolvido.

Esperemos pelos próximos capítulos.

segunda-feira, 19 de março de 2012

LUSOPONTE

quem me ajuda a esclarecer
ESTA DÚVIDA ATROZ


Para mim não esta tudo devidamente esclarecido no que toca ao caso Lusoponte.
Senão vejamos:

- O contrato estabelecido entre o Estado e a Lusoponte prevê a isenção do pagamento de portagens na ponte 25 de Abril, durante o mês de agosto, mediante o pagamento à concessionária de uma compensação no valor de 6,7 milhões de euros;
- Na vigência deste contrato, o governo decidiu que em 2011 não haveria isenção do pagamento de portagens, pelo que a concessionária recebeu o valor pago pelos automobilistas que passaram na ponte durante o mês de agosto. o que perfez 4,4 milhões de euros;
- Apesar disso a Secretaria de Estado dos Transportes decidiu enviar na mesma a comparticipação acordada (6,7 M€);
- Perante o protesto que esta situação suscitou, a Lusoponte comprometeu-se a devolver ao Estado o valor das portagens cobradas (4,4 M€).

Aparentemente o imbróglio estaria resolvido, mas há aqui qualquer coisa que não bate certo. Então o Estado tem pago 6,7 M€ por portagens não pagas, portagens essas que são 4,4 M€.

Este diferencial de 2,3 M€, o equivalente a perto de cinco mil salários mínimos, representam o quê? E quanto é que custou aos contribuintes durante estes anos todos?
Fico com esta dúvida atroz. Com todo o barulho feito à volta deste caso, provavelmente sou eu que não estou a ver a coisa como deve ser.
Ajudem-me por favor!

sábado, 25 de fevereiro de 2012



Absolutamente ministeriável




Segundo o jornal da cidade dos templários, o actual ministro dos Assuntos Parlamentares, depois de muito esforço, conseguiu aos 46 anos de idade, concluir uma licenciatura. Certo que foi ... na Lusófona, mas é melhor que nada! Diplomaticamente, naquele semanário escreveu-se que Miguel Relvas «era acusado de nunca ter trabalhado na vida, nem sequer como estudante», com o que se justifica ter demorado tantos anos para concluir um curso.
Na minha terra, que não somos nada de diplomacias, diríamos antes que "fez figura de burro".
Há uma casa de Salir de Matos que foi dos monges de Alcobaça e passou durante a revolução liberal para a propriedade do avô do general Sinel de Cordes. Nos alvores do século XX a casa foi comprada por uma família de agricultores e, lá para meados do século tinha como imagem de marca um burro, que entre outras tarefas fazia de animal de cobrição para toda a região.
O burro tinha o nome de Miguel e quando da sua morte, os herdeiros da casa compraram um burro em barro, escreveram numa das patas o nome Miguel e colocaram-no no relvado principal da casa.
Até que, recentemente, um brincalhão aplicou ao lado do burro de porcelana uma placa para mais fácil identificação do homenageado.
Parece lógico. Fica provado que afinal qualquer burro, mesmo que feito de matéria que pode ir para cacos, pode ser ministro. Não sei é qual dos dois "miguéis" acabará mais depressa nos ditos...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

uma aventura em Castro Verde

Uma aventura em Castro Verde
fábula autocaravanista





Em plena batalha de Ourique vimos nascer Portugal

Receosos porque os tempos não estavam para grandes performances, situação agravada pelo facto de termos de andar sempre à procura da bomba onde mais barato nos vendessem gasóleo, do que poderia resultar abastecermos a nossa nave do tempo com um carburante pouco afoito a uma vertiginosa viagem através dos séculos, decidi-mos ainda assim arriscar. Atestada a berlinga apontámos ao Alentejo com a expectativa de retrocedermos pelo menos um século em cada hora de viagem e chegarmos a tempo de ver nascer Portugal.
O nosso primeiro rei nasceu, viveu, reinou, morreu e foi sepultado em Coimbra e por via da sua maneira de ver o mundo a partir deste cantinho da Europa, nunca se deixou estar parado tempo suficiente para que o supusessem parado, do que resultou que ainda hoje haja quem ponha em causa onde terá nascido, vivido, reinado e morrido, ou mesmo se terá nascido, vivido, reinado ou morrido.
Então, a nossa aventura vale mesmo a pena. Vamos acelerar mais de oito séculos e meio para trás, de forma a ficamos cara a cara com ele, numa das façanhas que melhor o podem identificar, seja porque se dele até se põem em causa aspectos fundamentais da sua existência, desta façanha se começa por se pôr em causa onde foi cometida para depois se duvidar mesmo se existiu.
Vamos directos à batalha de Ourique.
Regulada a máquina do tempo para andar para trás conforme os nossos cálculos, uma hora passada um século a menos, donde resultaria que, se tudo estiver certo, estaremos no campo de batalha no ano da graça de 1139, a data mais provável em que a refrega terá ocorrido, embora o rigor dos historiadores seja tão instável que o risco de pisarmos o risco seja, para simples mirones como nós, tão grande como o de entrarmos pelo reino da asneira, o que só arriscamos pelo supremo saber de preferir o risco à castração.
Não devemos ter errado por muito pois, quando chegámos ao sítio que hoje é conhecido por São Pedro das Cabeças e à época para que a infernal máquina do tempo nos levou era tão só Fossado, deparámos com uma confusão indescritível, dum lado tropa farta vestida de branco onde até havia, imaginem só, mulheres guerreiras a cavalo, amazonas em exército árabe pode lá ser, esfregámos os olhos e pareceu-nos não haver dúvidas, então e se confusão é de tal ordem, e do outro lado com ar façanhudo estão os lusitanos em muito menos quantidade mas batalhando com a nossa ancestral habilidade para resolver as coisas difíceis e falhar nas mais fáceis, era inevitável que iríamos vencer a batalha.
Desta confusão não viemos muito esclarecidos.
Mas temos de respeitar o resultado. Cinco a zero é uma goleada de tal ordem que nem dá direito a segunda mão. As cabeças da linha avançada do adversário lá ficam pelo chão e um dia alguém dirá que tal vitória, conseguida com tamanha desproporção de forças só pode ter sido obra de milagre de São Tiago, e por isso o lugar passará a ser chamado de São Pedro.
Por tudo quanto já foi dito, esta não era a nossa aventura. Acordámos, voltámos aos dias de hoje e rodámos meia dúzia de quilómetros em redor até que demos com uma vila simpática, Castro Verde, onde para o parque de campismo estava anunciado o décimo quinto encontro de autocaravanas pyc-mmvv, isso sim uma verdadeira aventura.
Aí vamos nós.



O Parque Municipal de Campismo de Castro Verde

Chegados ao camping, situado na ponta noroeste do burgo, levámos com a seca do costume em terras lusas. De facto lá estava, atrás de um balcão, aquilo que nos pareceu ser uma das moçárabes que Afonso Henriques levou no séquito e que São Teotónio mandou restituir à liberdade, mas que a nossa secular tradição de sermos muito lentos a fazer justiça terá mantido esta moura convertida em pena suspensa, agravada nos dias de hoje com a suprema forma de tortura que é a de ter de aguentar oito horas seguidas atrás do balcão de um parque de campismo a fingir-se ocupada, mesmo sabendo que em menos de dez minutos por dia dava conta do recado. E não é que faltassem tarefas bem mais úteis, por exemplo averiguar quem comeu a paella que a esposa andaluza do galego Eduardo tinha preparado para degustação do colectivo, ou decifrar o estranho caso do desaparecimento de um galheteiro do azeite!
Feito check-in, acantonámos. O parque não é plano mas disfarça, não é relvado mas vá lá vá lá, não tem sombras mas para lá caminha. Porque vínhamos da guerra, a primeira intenção foi irmos directos ao duche e aí verificámos que só para abrirmos a torneira levávamos com a descarga do chuveiro. Claro que o canalizador que fez tal obra deve-se ter apercebido da asneira, pois acabada esta parte do trabalho retirou sem sequer te instalado suporte para sabonete.
Registámos e nem sequer refilámos, pois o calor humano com que fomos recebidos, saneou toda a contestação. Mais tarde haveríamos de constatar, para concluir o rol das críticas, que a iluminação nocturna é excessiva.
Finalmente registámos a presença de equipamento adornado com bandeiras de cruz azul sobre fundo branco, igualzinhas às que o primeiro rei hasteou na batalha de Ourique, mas que hoje por estranha coincidência identificam um povo eslavo com raízes russo-suecas, os suomis da Finlândia.
De seguida fomos consultar o programa e logo houve uma coisa em que jurámos não alinhar, uma qualquer investida sobre o moinho de vento, pois para confusões históricas já estávamos aviados, além de que a berlinga não é nenhum Rocinante.
Julgávamo-nos livres de mais envolvimentos com a História, com todo o tempo para o lazer. Nem sabíamos quanto estávamos enganados.



O coração do campo branco


Castro Verde será terra pequena, mas tem um circuito turístico urbano de fazer inveja a terras maiores e recheadas de monumentos. Com a vantagem de nem sequer precisarmos de transporte motorizado para o cumprir.
Ponto obrigatório para início do circuito, a Basílica Real, decorada com painéis de azulejos que procuram retratar a tal batalha onde tivemos a ilusão de ter estado no dia anterior. A basílica é real em homenagem a D. Sebastião que por aqui passou, cinco anos antes de, numa incursão a Álcacer Quibir, se ter dado para guerrear até aos limites da insensatez, indo ao ponto de ficar sozinho a espadeirar rodeado de dezenas de descendentes dos outros que o nosso primeiro rei derrotara em Ourique. Por vontade do Desejado a batalha ainda hoje não teria acabado, mas os mouros é que não estiveram pelos ajustes e um deles, de um golpe separou a cabeça do jovem rei de um corpo que, ao que dizem, estaria há muito roído de doenças. E assim acabou a dinastia de Avis.
Pelas crónicas que ficaram, a tal viagem de D. Sebastião, quase dois meses pelo Algarve e Alentejo, onde só não teve recepção entusiástica em Entradas e Castro Verde. O cronista Cascão, um Fernão Lopes de segunda extracção diz mesmo que só nestas terras não houve apresentação de "ordenanças a pé".
Mas o que é isso face ao simbolismo que sobre ele exercia o tal lugar, então chamado de Cabeços, e que hoje é São Pedro embora pudesse ser Santiago! O jovem rei deve ter pensado que se o objecto da sua devoção era aquela batalha e se São Tiago iria acabar patrono de Entradas, se o seu bisavô D. Manuel I deu foral a estas terras enquanto ele em tudo procurava ter com exemplo o tio-bisavô D. João II, o melhor era acabar com as confusões. E dizem, mandou pôr a matriz na Senhora dos Remédios, provavelmente com a secreta esperança de que, pouco mais de um século depois fosse erigida, quase ao lado, a basílica onde podem ser apreciados aqueles magníficos azulejos.
Para os interessados por arte sacra, é ainda obrigatória a visita guiada ao seu magnifico Tesouro, o que nós não perdemos.
Da basílica seguimos para o Museu da Lucerna, onde se encontra a que dizem ser a maior colecção de candeias de azeite do que foi o império romano. Só um estranho conjunto de circunstâncias terá permitido que muitas destas peças de frágil barro permaneçam intactas, quase dois mil anos depois de saírem das mãos dos oleiros. E são largas centenas.
Esgotado o programa da tarde, a noite reservou-nos mais uma agradável surpresa, um espectáculo de dança contemporânea, onde os profissionais da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo excederam a melhor das nossas expectativas. A peça tinha um fundo musical com os fados da nossa saudosa diva e, houvesse o cuidado de se ter preparado um libreto, estávamos perante uma quase sub-ópera.
Fantástico, e são horas de ir dormir.




Uma janela sobre a planície

Na manhã seguinte, mais uma surpresa extra-programa, a vila estava ocupada por uma feira de velharias, artesanato e gastronomia regional, um aperitivo de excelência para uma tarde numa "janela sobre a planície".
Este programa iniciou-se no Monte das Oliveiras, dominante sobre uma planície, onde não há cem anos más políticas pensaram ter o celeiro de Portugal, esta pátria de vinhas à beira-mar plantadas imaginada auto-suficiente em cereais e, descoberto o erro, outras políticas igualmente más pararam a produção intensiva duma forma que poderia ter levado as terras … a não produzir nada. Salvou-as o engenho destas gentes, que vai disfarçando um mal pior. O monte é o mais acabado exemplo da estrutura rural transtagana.
Do que alcança do alto, dá para imaginar a sul a terra revolvida por toupeiras humanas, na freguesia da Santa Bárbara de Padrões, entre as aldeias de A-dos-Neves e A-do-Corvo, tão só a mais importante actividade económica do Portugal de hoje em volume de exportações. Afinal, é da terra que nos vem tudo.
Finda a visita ao monte arrancámos para a ermida de Nossa Senhora de Aracélis, quase um enclave castro-verdense em terras de Mértola e de onde se alcançam terras de Espanha. Depois, sempre com a planície a cheirar a um Abril maduro, campos fora até Casével onde nos esperava a Associação de Cante Vozes das Terras Brancas, desta vez sem o elenco masculino, mas não se perdeu nada, nem sequer faltou, a pedido do nosso comandante, o "passarinho das quatro da madrugada".



Tudo na vida tem um fim


Caminhamos para o fim da aventura, pouco mais resta que gastronomia e paleio.
O jantar de "gala", as "generalidades e culatras", o almoço partilhado, o regresso às origens e o compromisso de, para o ano e para muitos mais regressarmos à aventura. E assim vamos, também nós, fazendo história.
Depois de abandonarmos o camping, ainda demos uma última espreitada à tal igreja, da Senhora dos Remédios, também chamada das Chagas do Salvador e aí pareceu-nos ver a explicação para D. Sebastião nada ter feito por ela, se calhar adivinhou que vinha a seguir um Filipe que a reconstruiria.
D. Sebastião deixou escola para os políticos de hoje, que não sabendo resolver os nossos problemas, ficaram à espera que viesse o FMI tomar conta disto.
Até que um dia o povo aplique ao FMI o remédio para os filipes. Janela fora.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

o caso da herança Fèteira



CONTINUA A ESPECULAR-SE EM TORNO DE QUESTÕES MARGINAIS

Quando estalou o escândalo da herança Fèteira, publiquei o que tinha como provado em relação aos primeiros anos da evolução do Lúcio Fèteira, que o levou à condição de um dos homens mais ricos do mundo.
Tudo o que publiquei resulta da memória de homens que estão à beira do centenário e não oferece qualquer dúvida quanto à sua veracidade, seja quanto à ida do Lúcio para a Legião Estrangeira, à sua passagem pelo partido comunista e pela presidência da junta de freguesia de Vieira de Leiria, a abertura e o encerramento estudados da fábrica da Guia, o título de cônsul do Paraguai e ao seu envolvimento num atentado e à fuga posterior no hidravião.
Nada disto oferece dúvidas.

A partir daqui,. a versão que eu conheci originalmente vai para duas décadas, sendo difícil obter-lhe hoje elementos comprovatórios, vale ainda assim um registo. Tem a ver com o que escrevi então sobre dois aspectos ainda hoje obscuros:
- Terá o Lúcio Fèteira estado envolvido num tentado contra Salazar?
- Houve ou não o beija-mão da família Fèteira ao ditador, na sequência do envolvimento do Lúcio no hipotético atentado e da sua fuga no hidroavião?

A primeira questão irá continuar envolta em controvérsia até ao final da história. De facto, o único atentado contra o ditador ocorreu em 4 de julho de 1937, logo depois de ter estalado a guerra civil espanhola, tendo todos os seus pormenores sido assumidos por Emídio Santana, anarco-sindicalista. E mesmo que se admita que uma certa característica individualista que caracterizava os militantes desta causa e que os levava a procurar protagonismo acima de tudo (veja-se a acção na véspera do 18 de janeiro de 1934 na central eléctrica de Coimbra então localizada na rua Figueira da Foz), parece de todo improvável que o Lúcio se metesse com este gente.
Resta então a hipótese de o comprovado envolvimento na tentativa de atentado contra o ministro da Indústria, ter intenções de ir mais além, ter ocorrido dez anos depois.
Sendo hipótese não assumida pelos seus contemporâneos, não deixa de ter alguma lógica. A qual seria a de o Lúcio Fèteira, depois de ter acertado com o Cunha e o pistoleiro contratado a forma como seria concretizado o atentado contra o ministro, ter mudado de ideias e decidido que o alvo seria o próprio Salazar.
Tudo vai continuar envolvido em brumas. O certo é que a acção contra o regime em que o nome do Lúcio Féteira pode ser envolvido, como financiador em associação com Cupertino de Miranda, é o levantamento militar de 10 de abril de 1947 nos quartéis de Tomar, Tancos e Entroncamento, falhado por falta de colaboração do restante dispositivo militar, falhanço esse que atrasou por quase três décadas a queda do regime fascista.

E é na sequência desse factos e da fuga do Lúcio que surge a segunda grande dúvida. Sabendo-se que os Fèteiras eram escora fundamental do dito "Estado Novo", e não sendo o Lúcio um dos quatro irmãos mais velhos a quem o pai confiou a propriedade da empresa, onde só entrou mais tarde por ter comprado a quota de um dos irmãos, como terá reagido a família ao envolvimento do delfim? Houve mesmo audiência de desagravo, o falado beija-mão?
O mistério vai prosseguir, mas há uma coisa que ninguém pode esconder que é o facto de um dos seus irmãos ter sustentado publicamente a teoria de que o Lúcio tinha sido recolhido na aldeia do Pilado pouco depois de ter nascido, em consequência de uma das graves crises de fome que caracterizaram a passagem do século XIX para o século XX, e que ao regressar poderá ter sido trocado. Conta-se que até foi dito, em socorro desta teoria, que haver um lenhador nos pinhais com as características físicas dos Fèteiras e esse sim seria o verdadeiro Lúcio! A falta que nos faz hoje Alexandre Herculano para pôr estas lendas no seu devido lugar.
Portanto, se houve ou não beija-mão dos Fèteiras a Salazar, é assunto que vai continuar no segredo dos deuses. Certo é que a ter acontecido a audiência, o ditador ao ouvir esta desculpa deve ter sorrido para dentro, anuído por conveniência e pensado lá para com os seus botões "è disto que o meu Portugal precisa".





ps1: A razão porque o Lúcio, que não foi destinado para "dono" da fábrica, coisa reservada pelo pai Joaquim Fèteira para os quatro irmãos mais velhos, e a forma como ele se sobrepôs a eles de tal forma que no centenário da empresa é ele que vai discursar na presença de ministros e embaixadores e depois de ter regressado da famosa fuga, terá origem no facto de ao Lúcio ter sido proporcionada a oportunidade de ir estudar para o Externato Correia Mateus, cujo edifício ainda existe.
ps2: Certa comunicação social continua a agarrar este assunto pelas questões marginais, o que só pode ser explicado por estar em causa muito dinheiro.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

LÚCIO FÈTEIRA
como a história poderia ter sido diferente


No final dos anos 20 do século passado, Lúcio Fèteira que era com o seu irmão gémeo o décimo filho legítimo do fundador do império metalúrgico da Vieira de Leiria, partiu para a Argélia levado pelo espírito de aventura.
Partiu por iniciativa própria, sem dizer nada a ninguém, nem ter cortado a ligação ao PCP de que era militante. Esteve três anos naquela colónia francesa , onde fez parte da Legião Estrangeira.
Com a prisão e o desterro de Bento Gonçalves para o Tarrafal, o partido fê-lo regressar, admitindo-se a possibilidade de assumir as funções de secretário-geral. Quando a família soube disto iam caindo o Carmo e Trindade, pois o Lúcio além de ser o único com instrução passou a ser a ovelha negra, já que todos os irmãos eram de extrema-direita, a começar pelo Albano que estava à frente das empresas da família e foi fundador da Legião Portuguesa. Lá conseguiram dissuadir o Lúcio entregando-lhe o cargo de presidente da Junta de Freguesia, onde entre outras coisas conseguiu trazer a energia eléctrica para a Vieira. Da ligação ao PCP ficou-lhe até ao fim da vida o cargo de cônsul do Paraguai que lhe haveria de ser precioso no futuro.
Depois, com um certo ar de conveniência casou com a filha do outro grande industrial, o Dâmaso, que o fez estagiar na fábrica de vidros. Rapidamente arrancou para nova aventura que foi a de abrir a mais moderna fábrica de vidro plano, na Guia, concelho de Pombal, para onde levou os melhores operários da Marinha Grande e da Fontela. Mas ainda o negócio não tinha aquecido, aquando do primeiro aniversário da laboração, promoveu uma festa de estadão, que mais não foi que uma manobra para fechar a fábrica, abrindo outra muito maior, beneficiando dos capitais do Cupertino de Miranda, no único espaço com condições para tal, em Santa Iria da Azóia. Nascia assim a COVINA e desenhava-se no horizonte uma das maiores fortunas do mundo.
Até que, anos mais tarde, o ministro da Indústria, Daniel Barbosa, lhe travou novos ânimos expansionistas. O Lúcio não se fez de modas e ofereceu participação no capital da empresa ao ministro, o que ele recusou por tal ser proibido aos governantes, coisa que até poderia ser contornada atribuindo-se essa quota à esposa do ministro. Só que a mulher recusou e a expansão dos negócios continuou embargada.
Isto não travou a vontade do Lúcio Fèteira. Com um sócio, o Cunha, contratou um homem a quem entregou uma pistola e deu como missão assassinar o ministro. Só que o pistoleiro perdeu a coragem e acabou por se entregar ao ministro. O Cunha foi de imediato preso pela PIDE, mas o Lúcio ainda conseguiu arranjar um mecânico-piloto que com ele arrancou do cais do Beato, no hidroavião de que o Lúcio era proprietário e lá voaram até ao Paraguai, e daí partiu para o Brasil onde construiu mais um império.
O Cunha passou uns anos na prisão e o Lúcio, com o poder que tinha lá conseguiu um indulto muitos anos depois.
O Lúcio Féteira morreu à beira dos cem anos de idade, com uma fortuna colossal e uma situação familiar atípica. Ainda era casado mas, há mais de trinta anos que vivia com a ex-esposa de um amigo e sem filhos legítimos, ainda que filhos ilegítimos da família Fèteira serão centenas na Vieira de Leiria.
Há dez anos que se perfilam os candidatos à herança, coisa que até parecia fácil face à existência de testamento. Mas quando as coisas se passam ao nível de quem levou uma vida como o Lúcio, nada pode ser dado como certo. Não é só o arrastar do processo prelos tribunais, a coisa chegou ao assassinato da que foi a companheira que viveu em união de facto com o Lúcio até a morte os separar.
Onde é que isto vai parar?
Eu, cá para mim, resolvia a questão de uma forma simples devolvendo toda a herança ao povo da Vieira. Afinal foi do seu suor e sofrimento que saiu aquela enorme fortuna.