quarta-feira, 25 de novembro de 2009

de autocaravana pelas estradas da Europa

ONDA CURTA

levar Portugal a todo o mundo através da rádio

O solstício de verão é a época de ouro, para nos aventuramos de autocaravana pela Europa fora rumo a norte. Quanto mais subimos em latitude, maiores são os dias, com o consequente melhor aproveitamento que nos dá para desfrutarmos de outras terras .
Este ano apontámos para a Bretanha na segunda quinzena de Junho e prolongámos a estadia até à primeira semana de Julho. Tivemos o cuidado de previamente consultarmos o sítio de RDP Internacional, para obtermos o mapa de frequências e os horários de emissão em onda curta. Praticamente todos os dias, de manhã e à noite, ligávamos o rádio e lá íamos tendo notícia do que por cá se passava. Até que, no último domingo do nosso roteiro, constatámos que a RDP ocupava aquele espaço, durante uma hora inteira com a transmissão de uma missa Este facto pareceu-nos inexplicável e, quando regressámos expusemos a questão ao Provedor do Ouvinte (o jornalista Adelino Gomes).

Eis o texto da nossa exposição:
"Sr Provedor do Ouvinte:
A RDP Internacional é minha companhia habitual todos os anos, quando aproveito alguns dias de férias para me aventurar pela Europa.
No passado dia 5 de Julho (domingo) sintonizei a banda dos 25m (12.020KHz) e para minha surpresa, constatei que entre as 8h00 e as 9h00, hora de Lisboa, a emissão foi integralmente preenchida com a transmissão de uma missa.
Já há anos vos chamei a atenção para esta situação. É que nem sequer é preciso invocar a laicidade do Estado, já que o facto de se transmitir um serviço religioso através da onda curta, seja ele qual for, revela uma total desatenção para com os objectivos que determinam a concessão planetária deste espaço das rádio-frequências. A RDP Internacional está, desta forma, a prestar um mau serviço e a desperdiçar um bem que é escasso e precioso.
Por mim, passado o primeiro susto e depois de olhar em volta para ver se quem estava por perto não me tinha tomado por um qualquer talibã, a solução foi desligar o rádio e perder uma tão apetecida hora de contacto com Portugal.
Faço votos de que esta anomalia seja rapidamente resolvida."

A exposição foi recebida pelo Provedor em 20 de Julho, que dois dias depois informou-me estar a trabalhar o assunto. A resposta definitiva veio em 9 de Setembro, tendo em conta que o Provedor teve de inquirir os responsáveis de RDP Internacional e entretanto meteram-se as férias. Pediu-me então para gravar o meu depoimento, o que se revelou difícil pois fui acometido por um princípio de afonia, tecnicamente ultrapassado pelo elevado profissionalismo dos sonoplastas da RDP. Uma semana depois a minha exposição foi para o ar, juntamente com os comentários da Direcção da RDP Internacional.

Da justificação que foi dada, de que não possuo gravação, retive dois aspectos essenciais, a saber:
1 - Que a transmissão da missa através da onda curta era de uma importância tal que, até já tinha acontecido uma vez, nos Açores, em que a falta dum padre para celebrar a missa foi resolvida com a colocação do rádio no altar;
2 - Que há hábitos instalados na nossa comunidade emigrante, que não prescinde da transmissão de tal serviço religioso através da onda curta.


O primeiro argumento deixou-me perplexo. Conheço um pouco dos Açores, e pelo menos uma ilha em pormenor (São Jorge) e não estou a ver aquela gente a aceitar que aquele território seja sujeito ao estatuto de fora de pátria, onde não chega a onda média e o FM. Esquisito. Sacudi a cabeça, voltei à realidade e lá dei o desconto de que, muito provavelmente o responsável da RDP Internacional que isto dizia estaria em simultâneo a compor um texto para o "portugalex". Passei adiante.

Já o segundo argumento merece-me todo o respeito. Será mesmo assim? E impus-me o esforço de tentar obter elementos que me permitam saber de que lado está a razão. Tarefa difícil, porque nessa área os meus contactos são escassos.
Servi-me então da experiência por que passei em 1983, no trabalho que desenvolvi de apoio à nossa comunidade emigrante no departamento 94 (Vale de Marne). Fosse hoje ainda vivo o saudoso Duarte, homem que fez milagres no fenómeno das rádios-livres que proliferou naquela época e teria um retrato rigoroso. A esta ponta acrescentei outra de laços familiares em Toulouse, de modo a estabelecer uma rede de duas dúzias de colaboradores, os quais permitiram saber da opinião, sobre sesta matéria, de pelo menos uma centena de portugueses emigrados.
Com um quadro destes, a sondagem teria de ser muito simples, de molde a obter a opinião dos respondentes sobre três questões:
Se ouviam a RDP Internacional;
Se ouviam a missa das 9 da manhã de domingo;
Caso não ouvissem a tal missa, e estivessem ligados à RDP Internacional quando ela começava, se desligariam o rádio como eu fiz.
Para os especialistas em sondagens, este meu questionário pode parecer pouco ortodoxo, mas para mim pareceu-me ser a melhor forma de ter resposta às minhas dúvidas. Passaram-se dois meses e tenho agora uma amostra, constituída pela opinião de mais de uma centena de portugueses.
Os resultados confirmam o que já previa. Se quanto aos ouvintes da RDP Internacional foi suplantada a minha previsão, pois mais de metade ouvem aquela emissora, quanto aos ouvintes da missa, o resultado é aterrador: Nenhum dos inquiridos tem o rádio ligado naquela hora. E há alguns que confessam ter o rádio ligado quando a missa começa, desligando-o de imediato.
Que fique claro que o que está em causa, não tem a ver com o facto de a RDP Internacional ser uma emissora oficial de um estado laico. O problema é mais profundo e tem a ver com a própria concepção da onda curta, onde salvo em situações muito excepcionais, não cabe a transmissão de tais eventos. Coisa que a Direcção da RDP Internacional tarda a perceber.

sábado, 21 de novembro de 2009

de autocaravana pelas estradas de Portugal
TELEVISÃO DIGITAL TERRESTRE
Em 2008 resolvi equipar a autocaravana com uma televisão LCD, tendo em vista o aproveitamento de espaço que um ecrã plano proporciona, aspecto sempre a ter em conta na relação com a viatura que nos dá o prazer supremo de acedermos a esta forma de viver o mundo.
O aparelho que elegi, além de ter a espessura de um livro, o que permitiu aplicá-lo com facilidade numa das paredes, trazia uma vantagem adicional, pois já vinha equipado para receber a televisão digital terrestre, coisa que chegaria a Portugal num futuro próximo. Logo na primeira saída, ao parar em Salamanca, foi um deslumbramento. É que o aparelho não só sintonizou automaticamente uma dúzia de canais como ainda revelou aquilo de que não estávamos à espera, uma qualidade de imagem impensável em Portugal mesmo nas redes digitais por cabo.
Entretanto entrámos no último trimestre de 2008 e é feito o anúncio do lançamento para este ano da TDT em Portugal. Esfregámos as mãos de contentes, pois íamos ter também na nossa terra a oportunidade de ver televisão na autocaravana com qualidade, digamos "europeia".
O pior é que passou-me mais de metade do ano de 2009 e de televisão digital népia, ainda que tenhamos feito sucessivas tentativas. Só nos restou a solução de contactar o vendedor do equipamento para saber das razões de tal situação.
A resposta deixou-nos atónitos. Respigamos o essencial:

"o seu receptor vem equipado com um sintonizador digital terrestre com descodificador MPG2, que é usado em quase toda a Europa. No entanto em 26 de Fevereiro de 2009 o Conselho de Ministros português definiu a norma MPG4 para Portugal e o apagão do sinal analógico para 2012. A 3 de Março deste ano a PT publicou os parâmetros técnicos para a recepção de TV digital em Portugal e a adopção do MPG4 como norma em Portugal. Não é norma vinculativa pois há marcas que ainda comercializam os seus LCD’s sem a norma MPG4".
Na prática nunca irei sintonizar nenhum canal digital em Portugal. E a partir de 2012 este aparelho, só por si, como a quase totalidade dos actualmente a funcionar no nosso país, não servirão para nada!
Não foi difícil perceber o que está em causa. A nossa rede de emissores de TDT vai emitir um sinal de televisão que não pode ser recebido por qualquer televisor em uso no resto da Europa e vice-versa. Coisa estranha e de que ninguém perceberá a utilidade. A não ser...
Foram as dúvidas que me levaram a recuar à lembrança do meu primeiro emprego, quando em 1964 fui trabalhar para a pioneira das interurbanas automáticas na empresa que é actualmente a PT. Após alguns contactos encontrei aí alguém que me deu uma interpretação para esta história. Para este especialista, esta decisão tem a ver com interesses comerciais, já que depois desta fase, que terá como primeira consequência já em 2012 a desactivação de todas as antenas de VHF (mesmo as de VHF3 as de elementos mais curtos), outra se seguirá em que, inevitavelmente, a transmissão de televisão por ondas hertzianas passa a ser residual, havendo em quase todas as habitações uma ligação aos operadores de cabo, seja por fibra ou por satélite. Acabarão então as antenas que enfeitam os telhados das nossas casas.
Não me parece que a coisa seja assim tão linear, mas o pior é perceber os efeitos desta medida em relação aos campistas e autocaravanistas. O meu interlocutor apenas me adiantou que ninguém deve ter pensado nisso.
Admitamos que no ano de 2012 já tão próximo, teremos encostadas os nossos actuais televisores e adquirido novos já com a norma MPG4. Pois, mas o pior é que mal passemos a fronteira, mesmo estes novos estes aparelhos não servem para nada. Na prática vamos ser confrontados com um muro de novo tipo, separando Portugal da Europa e com uma extensão nunca antes imaginada. Pensado, afinal, com o mesmo objectivo de todos os outros de betão que existiram, existem ou serão levantados. São sempre os interesses do poder económico que estão na sua origem!
Não restam dúvidas que estamos perante uma prepotência inaceitável. Quem governa este país tomou uma medida contra os interesses dos autocaravanistas, sem os ouvir e com o objectivo declarado de os prejudicar. Prepotência que exige que se lute contra ela.
Paradoxalmente, esta nova fronteira traz-nos à memória aquele grande homem que nasceu numa terra que foi passando de um lado para o outro de outras fronteiras, e que por tal ainda hoje tem dois nomes Trier ou Tréveris. Merece que lhe adaptemos a sua principal palavra de ordem, que para este caso ficará

"Autocaravanistas de todo o Portugal, uni-vos!".

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

de autocaravana pelas estradas de Portugal

ONDE PARAR!

Nas últimas décadas tem vindo a acelerar-se um processo de desumanização das nossas vias de comunicação rodoviárias. Organismos oficiais e projectistas convergiram num sentimento comum, que é o de que as estradas servem apenas para que quem nelas se aventure, o faça com o exclusivo objectivo de partir de um ponto para atingir outro, sem aproveitar nada do que faz parte do caminho. Como se quem circula nas nossas estradas, mesmo que na posse de todos os sentidos, não seja mais do que uma variante de mercadoria, que se despacha asfalto adiante.
Passa-se isto num país pleno de belezas naturais, como é o nosso Portugal.
Os autocaravanistas têm desta problemática uma visão particular. Sentem como ninguém o que é ir pela estrada fora e terem de fazer quilómetros e quilómetros à procura de uma sítio para encostarem para os mais diversos motivos. E não é só nas auto-estradas porteadas, onde sabem à partida que têm de pagar portagens caras e que as áreas de serviço apenas servem para comprar o jornal, já que todos os outros serviços são pagos com tarifas de salteador. Nas outras, as chamadas scut's, ainda vai havendo algum bom-senso, registe-se a qualidade da A24 na serra de Bigorne e alguns outros exemplos. Também nas estradas nacionais, nomeadamente os IC's e os IP's a situação não é famosa, nomeadamente no que toca à existência de locais decentes para parar.
Por isso, vale a pena que todos façamos um pequeno esforço, registando os exemplos que contrariam esta regra e divulgando-os para que tiremos proveito deste prazer que deveria ser o de circular de autocaravana país adentro.
O IC8, entre Pombal e a A23 nas cercanias de Vila Velha de Ródão, é um exemplo acabado do que atrás fica dito. Via estruturante pois é das poucas transversais de que dispomos, com um traçado relativamente recente, não dispõe de coisas tão elementares como sejam postos de abastecimento de combustível, de tal forma que quem roda para leste, depois de Ansião que se cuide.
No meio desta desgraça toda registe-se uma coisa notável. Ao quilómetro 84, passada a saída para Figueiró dos Vinhos, antes da passagem superior que dá acesso a Graça e Vila Facaia, um pequeno parque de merendas prova como é possível fazer bem sem grandes alaridos. Mesas, sombra, água corrente e até um pequeno jardim infantil, tudo um regalo para quem já não espera por surpresas destas. E ainda, pasme-se, instalações sanitárias de qualidade e sempre irrepreensivelmente limpas, separadas por sexo e onde não falta papel higiénico e sabão! A escassos metros e à vista do itinerário complementar, mas ainda assim protegida dos ruídos, esta é uma obra a merecer todos os louvores. À entrada uma placa indica que "Adega" é o nome da terra e depois mais nada referencia esta obra, nem quem esteve na sua origem, ou se esteve algum membro do governo ou autarca na sua inauguração, sinal de que foi feita para servir quem passa e não para promover quem a fez.
Merece registo. E que os autocaravanistas que por lá passam aí percam alguns momentos, a melhor homenagem que lhe pode ser feita.
Para completo registo aqui ficam as coordenadas do Parque de Merendas N 39º55.497' W8º.13.127'