sábado, 21 de novembro de 2009

de autocaravana pelas estradas de Portugal
TELEVISÃO DIGITAL TERRESTRE
Em 2008 resolvi equipar a autocaravana com uma televisão LCD, tendo em vista o aproveitamento de espaço que um ecrã plano proporciona, aspecto sempre a ter em conta na relação com a viatura que nos dá o prazer supremo de acedermos a esta forma de viver o mundo.
O aparelho que elegi, além de ter a espessura de um livro, o que permitiu aplicá-lo com facilidade numa das paredes, trazia uma vantagem adicional, pois já vinha equipado para receber a televisão digital terrestre, coisa que chegaria a Portugal num futuro próximo. Logo na primeira saída, ao parar em Salamanca, foi um deslumbramento. É que o aparelho não só sintonizou automaticamente uma dúzia de canais como ainda revelou aquilo de que não estávamos à espera, uma qualidade de imagem impensável em Portugal mesmo nas redes digitais por cabo.
Entretanto entrámos no último trimestre de 2008 e é feito o anúncio do lançamento para este ano da TDT em Portugal. Esfregámos as mãos de contentes, pois íamos ter também na nossa terra a oportunidade de ver televisão na autocaravana com qualidade, digamos "europeia".
O pior é que passou-me mais de metade do ano de 2009 e de televisão digital népia, ainda que tenhamos feito sucessivas tentativas. Só nos restou a solução de contactar o vendedor do equipamento para saber das razões de tal situação.
A resposta deixou-nos atónitos. Respigamos o essencial:

"o seu receptor vem equipado com um sintonizador digital terrestre com descodificador MPG2, que é usado em quase toda a Europa. No entanto em 26 de Fevereiro de 2009 o Conselho de Ministros português definiu a norma MPG4 para Portugal e o apagão do sinal analógico para 2012. A 3 de Março deste ano a PT publicou os parâmetros técnicos para a recepção de TV digital em Portugal e a adopção do MPG4 como norma em Portugal. Não é norma vinculativa pois há marcas que ainda comercializam os seus LCD’s sem a norma MPG4".
Na prática nunca irei sintonizar nenhum canal digital em Portugal. E a partir de 2012 este aparelho, só por si, como a quase totalidade dos actualmente a funcionar no nosso país, não servirão para nada!
Não foi difícil perceber o que está em causa. A nossa rede de emissores de TDT vai emitir um sinal de televisão que não pode ser recebido por qualquer televisor em uso no resto da Europa e vice-versa. Coisa estranha e de que ninguém perceberá a utilidade. A não ser...
Foram as dúvidas que me levaram a recuar à lembrança do meu primeiro emprego, quando em 1964 fui trabalhar para a pioneira das interurbanas automáticas na empresa que é actualmente a PT. Após alguns contactos encontrei aí alguém que me deu uma interpretação para esta história. Para este especialista, esta decisão tem a ver com interesses comerciais, já que depois desta fase, que terá como primeira consequência já em 2012 a desactivação de todas as antenas de VHF (mesmo as de VHF3 as de elementos mais curtos), outra se seguirá em que, inevitavelmente, a transmissão de televisão por ondas hertzianas passa a ser residual, havendo em quase todas as habitações uma ligação aos operadores de cabo, seja por fibra ou por satélite. Acabarão então as antenas que enfeitam os telhados das nossas casas.
Não me parece que a coisa seja assim tão linear, mas o pior é perceber os efeitos desta medida em relação aos campistas e autocaravanistas. O meu interlocutor apenas me adiantou que ninguém deve ter pensado nisso.
Admitamos que no ano de 2012 já tão próximo, teremos encostadas os nossos actuais televisores e adquirido novos já com a norma MPG4. Pois, mas o pior é que mal passemos a fronteira, mesmo estes novos estes aparelhos não servem para nada. Na prática vamos ser confrontados com um muro de novo tipo, separando Portugal da Europa e com uma extensão nunca antes imaginada. Pensado, afinal, com o mesmo objectivo de todos os outros de betão que existiram, existem ou serão levantados. São sempre os interesses do poder económico que estão na sua origem!
Não restam dúvidas que estamos perante uma prepotência inaceitável. Quem governa este país tomou uma medida contra os interesses dos autocaravanistas, sem os ouvir e com o objectivo declarado de os prejudicar. Prepotência que exige que se lute contra ela.
Paradoxalmente, esta nova fronteira traz-nos à memória aquele grande homem que nasceu numa terra que foi passando de um lado para o outro de outras fronteiras, e que por tal ainda hoje tem dois nomes Trier ou Tréveris. Merece que lhe adaptemos a sua principal palavra de ordem, que para este caso ficará

"Autocaravanistas de todo o Portugal, uni-vos!".

7 comentários:

Papa Léguas disse...

Muito obrigado por esta importante informação.

No Blogue do Papa Léguas já se encontra uma referência a esta informação.

Unknown disse...

Isto ja me da a impressão que e Marrocos na versão europeia

Anónimo disse...

Mas isto é um escândalo. Temos de descobrir quem é que ganhou com esta decisão, pois há aqui todo o cheiro a corrupção.

António Meireles disse...

Permita-me só uma correcção. Os aparelhos que se comprarem em MPEG-4, continuarao a funcionar na europa, visto que os aparelhos MPEG-4 tambem permitem a descodificação em MPEG-2.

Saudações Autocaravanistas!!!

Álvaro Pereira disse...

Acho que tem razão, o que esta´em causa nem sequer é o de a nossa norma ser desconforme com a que vigora no resto da Europa, mas sim os interesses comerciais que isto representa.
Já há à venda conversores de sinal para MPG4, a um preço que ronda os 100 euros, cerca de 10 vezes o seu valor real. Claro que podem aparecer aí nas lojas chinesas uns mais baratos...
PORQUE QUE A EUROPA NÃO HÁ-DE TER TODA A MESMA NORMA ???

Alberto Antunes disse...

Por favor não altere nada do que aí está. O poste trata este assunto com todo o rigor. Só agora soube da sua existência, li-o e reli-o e só lamento que ninguém tenha agarrado este assunto desta forma.
Pelo que me é dado a perceber já fez mexer um monte de coisas numa questão que estava a ser tratada de forma vergonhosa. É preciso manter a pressão pois as coisas agora estarão a se direccionadas doutra forma e pode ser que, com ou sem quinto canal, o prejuízo para os portugueses não seja total como tudo fazia prever.
Um abraço
Alberto Antunes

Marcos Violante disse...

O meu amigo tem toda a razão. Isto da televisão digital terrestre está a ser conduzido de forma vergonhosa, só para defender os grandes lucros, esquecendo que no futuro, logo que seja desligada a analógica, esta vai ser a televisão dos pobres. Que não vão ganhar para ver os 5 canais, isto se não se ficarem +eloa 4 actuais.
O povo só vai dar eplo roubo quando for tarde.
Marcos Violante